Mackinder and the geo-strategy of fear

A self-made prophecy

No one knows how the world would have evolved if Halford Mackinder (1861-1947) had not formulated his personal nightmare: the idea that 'The great Land Mass, or Heartland' was a great danger to the hegemony of the Anglo-Saxon maritime Empires.

Frightened by the German expansion to the east and the understandings that were emerging between the Turks, the Russians and the great Germany that was also advancing at full steam to defeat England industrially (the Trans-Siberian Railway and the Orient Express resulted from this fruitful collaboration), Mackinder shared his personal nightmare with his contemporaries, thus collectivizing, among his fellow countrymen, a terror that he could have kept to himself, if he had had the humility to consider that nothing is inevitable.

In fact, there was no guarantee that this ‘ungodly alliance’ between the peoples of the Heartland could come to fruition in such a linear fashion, at least.

Unforeseen events would always arise, as would disputes between rival neighboring powers, often with divergent projects and interests.

At the time he lived, as it is today, it was not clear that this entire constellation of peoples that inhabited Asia, Africa and Europe could really form a united front with the clear intention of challenging the British Empire, much less the then emerging United States.

Two world wars were engineered by the Anglo-Saxon maritime powers to prevent the 'great island of the world' (Asia, Africa and Europe) from functioning as a huge continent where land trade would strengthen relations of interdependence and probably friendship or at least cooperation.

Mackinder's primer, however, was adopted on both sides of the Atlantic first, and then by the rest of the world. A few years late, the people of Asia, Africa and Europe took a good look at the issue.

It is fair to say that Mackinder gave them an idea of ​​how to strike a mortal blow, first at the now defunct British Empire, then at its successor, the USA.

This evokes the situation of the jealous husband who, after accusing his wife of cheating so many times, ends up causing what he wanted to avoid. Because at some point, no matter how holy and patient such a wife is, she will understand that since she cannot get rid of fame, it will be better if she also has the benefit.

If previously the Anglo-Saxon nightmare was an alliance between Germany and Russia, today what keeps the elites of these countries and their vassals awake is an alliance between Russia and China, an even more formidable threat to the hegemony of the maritime powers.

The alarms sounded even louder when China revealed its intention to unite the three large continental masses by roads, railways and pipelines, an objective for which it was counting (and still counts) on Russia, as well as other Asian and African countries.

What about Europe? At an early stage, she seemed to understand the advantages of such a project. But at that time her jealous and manipulative husband locked her in the house and forbade her from going out. To this day, the abused wife seems to resign herself to this sad fate. But nothing is eternal and rebellion can happen.

Back to the beginning: no one knows what would have happened if the nightmare of an individual committed to his beloved Empire had not come to light, influencing generations of decision-makers. I even admit that other conflicts would have occurred, instead of those that have arisen and will arise.

I believe, however, that inevitability often arises more from the effort of what one wants to avoid (this is, in fact, largely the meaning of classical Greek tragedy) than from the act of cultivating spontaneous relationships, which can also produce bad results but will be more easily resolved, to the extent that they did not result from any attempt at imposition.

(…)

Mackinder e a geo-estratégia do medo

Uma profecia auto-produzida

Ninguém sabe como o mundo teria evoluído se Halford Mackinder (1861 - 1947) não tivesse formulado o seu pesadelo pessoal: a ideia de que ‘A grande Massa de Terra, ou Heartland’ era um grande perigo para a hegemonia dos Impérios marítimos Anglo-Saxões.

Assustado com a expansão Germânica para leste e os entendimentos que se esboçavam entre os Turcos, os Russos e a grande Alemanha que avançava também a grande vapor para vencer industrialmente a Inglaterra (o transiberiano e o Expresso do Oriente resultaram dessa frutífera colaboração), Mackinder partilhou o seu pesadelo pessoal com seus contemporâneos, colectivizando assim, entre os seus conterrâneos, um terror que poderia ter guardado para si, se tivesse tido a humildade de considerar que nada é inevitável.

Na verdade, não havia nenhuma garantia de que essa ‘ímpia aliança’ entre os povos da Heartland se pudesse concretizar de forma tão linear, pelo menos.

Imprevistos surgiriam sempre, bem como disputas entre poderes vizinhos rivais e muitas vezes com projectos e interesses divergentes.

Na altura em que ele viveu, como hoje, não era líquido que toda essa constelação de povos que habitava a Ásia, a África e a Europa pudesse realmente formar uma frente unida no cristalino intuito de desafiar o Império Britânico muito menos os então emergentes Estados Unidos.

Duas guerras mundiais foram arquitectadas pelas potências marítimas Anglo-Saxónicas para impedir que a ‘grande ilha do mundo’ (Ásia, África e Europa) funcionasse como um Enorme continente onde o comércio terrestre fortalecesse relações de interdependência e provavelmente, de amizade ou pelo menos cooperação.

A cartilha de Mackinder foi no entanto adoptada dos dois lados do Atlântico, primeiro, pelo resto do mundo depois. Com alguns anos de atraso, os povos da Ásia, África e Europa analisaram bem a questão.

É caso para dizer que Mackinder lhes deu uma ideia de como desferir um golpe mortal, primeiro no agora defunto Império britânico, logo depois no seu sucessor, os EUA.

Isto evoca a situação do marido ciumento que de tantas vezes acusar a esposa de traição, acaba por provocar aquilo que queria evitar. Porque nalgum ponto, por muito santa e paciente que tal esposa seja, entenderá que não se podendo livrar da fama, melhor será se tiver também o proveito.

Se anteriormente o pesadelo Anglo-Saxónico era uma aliança entre Alemanha e Rússia, hoje o que mantém as elites desses países e seus vassalos insones, é uma Aliança entre Rússia e China, uma ameaça mais formidável ainda à hegemonia das potências marítimas.

Os alarmes soaram mais fortemente ainda quando a China revelou sua intenção de unir as 3 grandes massas continentais por estradas, caminhos de ferro e oleodutos, objectivo para o qual contava (e conta) com a Rússia, bem como de outros países Asiáticos e Africanos.

E a Europa? num estágio inicial, ela pareceu entender as vantagens de um tal projecto. Mas nessa altura seu marido ciumento e manipulador fechou-a em casa e proibiu-a de sair. Até hoje, a esposa abusada parece resignar-se com esse triste destino. Mas nada é eterno e a rebelião pode acontecer.

Voltando ao início: ninguém sabe o que aconteceria se o pesadelo de um indivíduo comprometido com o seu querido Império não tivesse vindo a público, influenciando gerações de tomadores de decisão. Admito até que outros conflitos teriam acontecido, em lugar dos que surgiram e surgirão.

Acredito porém que frequentemente a inevitabilidade surge mais pelo esforço do que se quer evitar (esse é aliás em grande medida o sentido da tragédia grega clássica) do que do acto de cultivar relações espontâneas, que também podem produzir maus resultados mas mais facilmente serão dirimidas, na medida em que não resultaram de nenhuma tentativa de imposição.